Passou
a ser comum os casais separarem as contas, as tarefas e os amigos. Agora, até a
cama entrou na dança. Dormir em quartos separados virou moda. Pouca gente
assume, mas muitos fazem. Essa prática demonstra que a individualidade, hoje, é
mais importante do que dormir abraçadinho ou de conchinha com a pessoa amada.
Em
entrevista à Folha de São Paulo, a médica do sono, Ângela Beatriz Lana, afirmou
que cerca de 40% dos seus pacientes dormem em camas ou quartos separados, mas
que dificilmente assumem isso para as famílias.
Na
época dos meus avós, seria um absurdo dizer que marido e mulher não dormem no
mesmo quarto. Um indício de ter outro – ou outra – na jogada. A geração
seguinte passou a dormir tão juntinha, que até filho, cachorro, periquito e
papagaio dividiam o mesmo espaço no quarto. Hoje, estão querendo mudar isso.
Cada um no seu quadrado. Diria que o egoísmo consumiu os casais contemporâneos.
A
desculpa para isso: o sono. Dormir junto atrapalha o parceiro, que pode ter
insônia, apneia, roncar, gostar da televisão ligada, a temperatura mais fria ou
ler até de madrugada. Além disso, os adultos têm, em média, 30 microdespertares
por noite e, quanto maior for esse número, mais cansados acordam na manhã
seguinte. Então, para cuidar da saúde e diminuir o nível de estresse, deixam de
cuidar de seus relacionamentos.
Falta
de amor, hábito estranho, descuido, chame como quiser, mas isso pode trazer
problemas para a vida a dois. Seria essa a tentativa de um namoro prolongado?
Não tem como dar certo. Estar casado exige uma série de responsabilidades e
compromissos. Não dá para discutir ou até mesmo ter uma noite de amor e depois
cada um vai para sua casa ou, nesse caso, para o seu quarto. Pensar apenas no
próprio espaço pode separar os corpos.
Passar
a noite em quartos separados faz o casal perder momentos importantes. Enquanto
os dois se preparam para deitar, podem conversar sobre o dia que tiveram,
trocar experiências, olharem-se nos olhos. Com a rotina turbulenta de hoje,
muitos nem conseguem se ver durante o dia. Continuar separado a noite, não dá.
Também
em entrevista a Folha, Luciana Palombini, do Instituto do Sono da Unifesp,
pontua que apesar dos prejuízos que a companhia durante a noite pode causar,
dormir junto traz benefícios emocionais. Segundo ela, dividir a cama com o
parceiro passa segurança e aconchego, “o que é bom para tudo, inclusive para o
sono”.
A
cama deve ser o lugar mais significativo da casa. É ali que o dia começa e
termina. É nesse espaço que o casal pode partilhar desejos e sentimentos. No quarto,
que é um ambiente só para eles, é o lugar de estarem juntos e, de preferência,
de conchinha.